quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Não fui eu


Não fui eu
que sujei seu terno azul;
que usei seu sapatinho de cristal - que se partiu no primeiro passo;
que reguei seus lírios com ácido sulfúrico;
que passeei sobre seu jardim com tanque de guerra;
que rasguei seu testamento - de objetos imprestáveis, valores ínfimos e dívidas impagáveis;
que cuspi no seu prato morno;
que fiz sua barba com a moto serra;
que tatuei esse sorriso na sua cara mal lavada;
que vendei seus olhos no momento do pôr do sol;
que matei o filho do seu Pai;
que coloquei lisérgico no vinho dos seus discípulos;
que salguei sua ceia (santa);
que emprestei o isqueiro pros seus algozes incendiários;
que publiquei seus segredos no jornal da manhã;
que saqueei sua caixa preta;
que guardei seu coração no fundo do baú;
que ceifei sua personalité;
que mordi sua perna na fila de espera;
que trouxe a fome pro seu regime;
que lhe aluguei essa casa sem telhado;
que lhe trouxe doce roubado de criança;
que lhe devolvi o troco errado;
que lhe mandei correr com tesouras;
que gargalhei no dia que você chorou;
que roubei sua solidão;
que enfeitei sua tristeza;
que calei na hora da sua defesa.
Não fui eu que sonhei com o paraíso habitado por seres de elevada moral e lubricidade.
Não fui eu. Não fui. Não eu.
Eu sinto (muito) pouco.
Tudo está como era pra ser e assim não o seria se não fosse por você.
Bem feito está. A culpa pertence a quem a carrega. Eu me sinto leve.
Sua consciência deve estar lá naquele brexó que você adora frequentar. Foi objeto de troca. Resgate-a por preço vil. Aproveite as ofertas e adquira outras bobagens de antanhos e bibelôs inanimados que já serviram de cenário para as suas cenas, e em nada alteram a demanda do mercado contemporâneo.
Colecione suas desculpas prontas e aguarde a ocasião certa para tirá-las do saco.
Siga corretamente o modo de usar e utilize-as com moderação.
Desculpas consumadas quando consumidas.
Sofista de merda.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

SERÁ QUE DEUS CRÊ EM MIM?


Tenho fé porque preciso tanto dela quanto do metal (o vil) para (sobre)viver.
A fé está sempre me colocando em xeque, e eu, compelida a fazer dela o objeto dos meus devaneios. A fé anda sempre misturada e confundida com a esperança, e ao contrário do que prolatam por aí, a esperança é a primeira que deve morrer.
Tento...tento...tento...praticar a caridade. Doar-me um pouco aos outros, e doar algumas pataca$ também. Mas não me engano, doar o que sobra - o resto - não é mérito algum. Estou longe (muito mesmo) de ser algo parecido com a matrona Teresa, ou mesmo ter livre acesso (sem pagar pedágio) ao "reino dos céus".
Dos Sacramentos: fui batizada por uma sociedade hipócrita, mas não me deixei crismar. Meu filho é dito "pagão". Eu, sinceramente, só posso rir de tudo isso. Já quase contraí matrimônio. Não, não é doença. Não criei anticorpos. Mas sarei assim mesmo. Podem descartar a vacina, é dispensável.
Minha trindade são três seres em apenas um: razão, emoção, e, cartão de débito (é, só gasto o que tenho hoje).
Parte de mim é amor, outra (enorme por sinal), desejos, tudo com uma leve pitada de crueldade e lirismo.
Já fui (uma) fiel, hoje me questiono. Comunguei erradamente opiniões, gostos e decisões. Revi, arredei, desconstruí, metamorfoseei, passei de lagarta a borboleta (inúmeras vezes e não necessariamente nesta ordem).
Confessei coisas inconfessáveis (sob o efeito de lisérgicos e/ou influenciada pela veia hormonal), claro, precisava de cúmplices para a tarefa da libertação.
Às vezes me arrependo, de não ter tido colhões suficientes pra fazer o que estava a fim. O que fiz já está feito. Certo ou errado...
Por vezes perdoei - 7x70, por menos vezes recebi perdão.
Aos que me magoaram profundamente, dei extrema-unção - para facilitar suas entradas num outro mundo, bem distante, que não o meu.
Canonizei (que ingenuidade) pessoas, acreditei em falsos profetas, em suas parábolas e em pseudo-milagres, e quando as promessas não se cumpriram, tornei-me nelas descrente. Mas persisto na maldita e inabalável fé.
Conheci e convivi com algumas almas condenadas. Não fiz muito por elas senão dar-lhes uma lamparina (Venha para a luz...Karolaine). E, dos cegos por opção, me afastei.
Vez em quando vou ao céu, passo várias vezes pelo purgatório e já tive a sensação de estar no inferno, entretanto, não perdi o juízo, afinal. Deus, não sei falar sobre, tal nome, em um mundo tão concreto, me remete ao indefinível, intangível. Contudo, preciso crer que algo melhor que a espécie humana deva existir, afinal de contas - de novo a idosa dúvida - pra que tudo e todos aqui? Essa bomba relógio, Terra, ínfimo planetinha navegando no meio de uma galáxia gigantesca, habitado por seres viventes, dotados de razão bruta e sentimentos diversos e dúbios, amaldiçoados pela eterna busca de perguntas sem respostas.
Deus(?)... Aproveito agora ao citar seu nome, para desculpar-me pelas inúmeras vezes em que o tomei em vão. Foi mal, mas tem horas que só uma intervenção divina mesmo pra dar jeito. Vivo pedindo a ele proteção. Já deve estar usando o estoque reserva. Perdoa-me Pai pelos meus atos funestos e pelos males que não faço, mas penso ou desejo. Eu sei que o perdão divino é para os que não sabem o que fazem, é que às vezes nem eu mesma sei o que faço ou falo.
Procuro guardar-me para os domingos e festas. Os profanos de preferência, regados a vinho, acompanhados de amigos, boa música, e outras bilongas mais. "A vida necessita de pausas".
Sempre honrei e honrarei meus pais, embora seja o antônimo deles.
Já matei, sono, fome, vontade, tesão, saudade, tempo...e a arrogância do meu próximo ao desarticular suas verdades perfeitas e absolutas.
E pequei. Meu Senhor e Minha (Nossa) Senhora...inúmeras vezes. Fui contra a castidade. Tolerância e pudores nunca foram o meu forte. Hodiernamente tenho exercitado a tolerância, tentando sepultar aos poucos meu lado critico em prol da emergente espiritualidade. Mas não confundam tolerância com degustação de sapos.
Também furtei. A mim, certos prazeres, aos outros, o prazer em me ver fracassar.
E roubei ainda mais: flores, corações, olhares, atenção, poesias, canções, frases... Mas tudo por uma boa causa!
Por necessidade (causa própria ou não), já menti, levantei falso testemunho e/ou fui cúmplice. E quando foi, ou ainda é preciso, neguei e nego muitas vezes. Contudo, depois de fazer um balanço geral na vida, opto pela verdade, mesmo que inconveniente. Todos não proclamam por ela!? Então agüenta!
Já fui traída por um beijo, já me negaram várias vezes e também tentaram me crucificar. Como não me deixo ser pega como Cristo, dou sempre meu jeitinho de renascer antes do 3º dia.
Nunca desejei a mulher do próximo (até porque não é minha praia). Mas cobiço coisas alheias: inteligência, talentos, sabedoria, conhecimento, cultura, experiências...Porque apesar das minhas, eu quero ainda mais. Por isso, estou sempre junto aos bons, aos bons livros, e muitas vezes, às más companhias (são riquíssimas em experiências).
A gula...confesso - adoro boa comida.
A vaidade...confesso - adoro me sentir linda (?!).
A luxúria... confesso – ai, ai, faz um bem à pele...e o tônus muscular!
Avareza! É (esse meu sangue árabe!). Uma em especial, minha essência. Essa é só minha. Também...quem vai querer(?). E ainda tem a tal da caixa preta (as misérias e as virtudes nun saco só) que todo mundo carrega consigo, incólume, até o dia do ultimo suspiro.
Meu maior e melhor pecado: preguiça. Adoro! Principalmente numa terça-feira à tarde, enquanto todos trabalham, eu, em ótima e lúbrica companhia.
São Jorge é o máximo. Imaginem...o cara (de origem turca) “vive na lua” (segundo a cultura brasileira e africana: Ogum ou Oxossi) montado em seu cavalo, a matar dragões de hálito venenoso (histórias medievais).
Não acredito em santos. No máximo em pessoas iluminadas e que fazem um bem danado ao nosso mundinho quando por aqui passam.
Acredito em anjos, ou espíritos, pode dar o nome que quiser. Principalmente os que me cercam, protegem, e os que insistem em me obsediar. Tão ocupados!
Acredito em bruxas. Elas existem sim. Conheço um bom número delas.
Acredito em mim e nos meus ideais, meus paradoxos e idiossincrasias, na (in)viabilidade do ser humano, em justiça (...), paz (urgente), amor ao próximo e na tão falada, buscada, comentada, questionada, indefinível fé.
Acima de tudo, acredito que exista algo melhor que eu mesma e meus “irmãos”. Logo, nada me faltará (mas vou à caça da presa todo dia pra levar pra cria comer no jantar...).
Não sou católica, apostólica, tampouco romana. Não me comovem os “bons sentimentos” sazonais do Natal e não acredito no papai Noel (desculpa Loro).
Eu apenas creio. "Minha fé é meu jogo de cintura". Sou eu uma adorável pecadora. Uma transgressora sem culpas. Uma ovelha que não pertence a nenhum rebanho. Que faz promessas, juras, rogas e rezas. Que às vezes pragueja, mas bem menos que abençoa. Que tem seu próprio templo e busca a maldita felicidade. Não é isso que importa afinal?!
Será que Deus crê em mim?
Felicidades e facilidades, hoje, agora e sempre, e não só no ano que vem. Assim seja!