quarta-feira, 1 de junho de 2011

O CU PADA


Todo dia é demais pra mim
Não sei se chove ou se faz frio
Ontem jantei, hoje nem almocei
A cama muito me chama e pouco me abraça
Não devia ser assim
Quando pintarei as unhas de azul e extrairei os cravos do nariz
Os pássaros confundem meu cabelo com o ninho
Já não uso antisséptico bucal, quem dera uma corrida matinal
Céline abandonado na cabeceira
Acompanhado dos jornais de terça-feira
A vida passa, eu vou junto, e nem vi
O relógio não me permite ver os amigos, nem me preocupar com algum infeliz
1440 minutos correm depressa e nem me dão fôlego
Pra poder beijar direito o moço e fazer planos casadoiros
Quando o sol nascer de novo, terei acabado de dormir
Hoje já é depois de amanhã, começa o tudo de novo, é o começo do fim
Não vou me acostumar a dosinhas de prozac em taça de cristal
Óh deuses isso é tão sério, será que devia levar a sério?!
Ahh...não vou pensar nisso agora
Porque se penso logo insisto ou desisto
Não quero suores no meu robe de seda
Acabo rindo disso tudo, nem que seja no último minuto
Estou aqui há horas pra colher o fruto do que vivi (ou não vivi)
E a minha parte eu quero em ócio, espumante, e cama redonda com vista pro mar.

(de preferência no tempo das carnes ainda duras - ou macias)

quarta-feira, 23 de março de 2011

água benta



Existe uma saudade maldita que me acompanha, espia e aperta minha carne.

E crises de abstinência solidificam sua presença em miragens lúbricas no cinema da minha mente.

A boca sequiosa à espreita de uma gota dos seus líquidos, e nada mais há que mate essa sede e acalente meu instinto, do que a força da sua língua alterando a minha percepção.

Minhas pupilas dilatam e crescem buscando te alcançar a qualquer distância.

Meu couro se arrepia e transforma meus pêlos em espinhos selvagens que esperam ser domesticados e amaciados por seus dedos viris.

O corpo revolto pela vontade de ti junto a ele, a pulsação alcança velocidade de avião, e palpita urgente, implacável e revelador.

E tudo que há em mim acusa, me expõe, e não há disfarce que disfarce meus sentidos exaltados e meu cheiro exalado.

A minha roupa, os lençóis, os travesseiros e coxas se encharcam enquanto esperam sentir seu peso sobre as minha ancas.

A temperatura queima tudo em volta, e tenho febre de causas e efeitos.
Febre terçã. De ansiar, esperar, ter, tocar, imaginar, sentir, vibrar.

Surto. Pertubação. Agitação. Desordem.
Colapso no vácuo dos meus braços e no vão das minhas pernas sem seu preenchimento.

Não há água suficiente no mundo que abarque a liquidez da sua rigidez convicta e insolente.

E deságuo meu sal, meu suor e mel pra dissipar sua ausência que cresce em proporções ameaçadoras junto ao meu anseio imodesto, petulante e atrevido.

Abro os olhos pra não ver, mas sua ubiquidade me assalta e rouba todos os meus sonhos, deixando em troca seu gosto cravado no céu da minha boca, entorpecendo as papilas com deleite, doçura, dureza e rudez.

Então fecho os olhos, e sua ausência material reflete toda a minha fragilidade, todas as minhas águas, todo o meu mergulho na sua nostalgia, toda a fantasia da minha avidez que é crua, é nua e é sua.

E já não quero mais saber do que se passa lá fora, porque tudo o que me interessa só pode advir de dentro de nós.

Sinais de antropofagia se apropriam de mim. Canibalismo. Te comer entrelinhas e saciar a fome das minhas entranhas. Tateio meu corpo doente na esperança de que venhas logo e me salve.

Corpo açoitado, desejo santificado, oro e suplico, venha, abençõe-me, e jorre sobre mim sua água benta. Porque persevero no prazer minha fé maometana.

E porque ainda és meu óleo e minha benção, minha cura, minha unção, meu prazer e meu pão.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ser perfeito é o maior defeito




Você que tem medo do mar
se afoga sempre em terra firme
usa as palavras como ardil
e ao delas se afastar, um passo à frente, se contradiz
incompetente, não sabe agir
devia nutrir o amor – de preferência o próprio – ou impróprio
prezar a carne biodegradável
a cada instante mais distante da eternaidade
escondida atrás de panos chic, cabelo arranjado, peeling de cristal, unhas pintadas
e na cara, o riso amarelo, em dentes brancos
fantasia não maquia o que precisa
onde está a ombridade em honrar a vida que lhe foi permitida
perde tempo, conta estrelas, não topa montanha russa, fala com os mortos,
não beija o sapo por medo de virar rã
dá a volta ao mundo, rodeia o eixo, e aporta no mesmo porto
pensa que sabe que vê diferente, e conta sempre a mesma história
mansa, pobre, vítima, desgraçada, desventurada, deplorável, lastimável
pede esmolas, atenção, seguidores, bota placa
suplica sutilmente por companhia
rejeitada em eterno encalço de paixões
bestialmente concebidas em berços sofistas
aviso: nesse mundo só há viralatas
ser perfeito é o maior defeito
não existe príncipe pra você
apague o pânico desse teatro sem chamas
sua casta não será assestada
ei, chega perto: - Teu disfarce te revela.