eu me entrego para os dias de sol
para as manhãs de yoga
para as noites de jazz e de lua cheia - que me abduzam
para as doses de sherry oak
para as garrafas de tinto
para meus livros de receitas naturais
para os cigarrinhos de flor
para a alegria dos infantes
para as artes
e para o meu único guia, onipresente
se você não vê, nem sente, só
sintovc procura no vácuo
e pensa que tudo acabou
mas, lá no fundo, bem fundo, onde não há luz
vc pode encontrar
um coração de papel feito com descansa copo
alguns grampos de cabelo tortos
bolinha de gude
um fio de fita dental
moedas de 10 cents e balas de cânhamo, da última viagem
cimegripe vencido
colirio umidificante
e até um absorve-mente
o itinerário agora é,
esperar a chuva cessar
passar pelo bar
pegar uma dose de alívio
e passear pelas ruas
até encontrar um sujeito cego
que tenha ouvidos bem abertos
e a imaginação bem fértil
escolhi restar me isolada
debaixo desse pé de jabuticaba
porque essa gentrificação tem um ego enorme
e ocupou todo o espaço que me era pertinente
c'est la vie
parece que o tempo parou
e eu fiquei aqui, a ver navios naufragando na avenida
até pensei seguir a nuvem coração de leão
mas não, pura ilusão, da minha miopia astigmástica
alguém me tira daqui!?
me movimenta
me põe na garupa
me leva pra montanha
quero comer aquele cogumelo raro
que a gente colhia pra fazer nosso doce amargo
antes que os eremitas e os escoteiros os arranquem na madrugada
quando do pôr do sol
havia uma luz rosa fúcsia no céu de aquarela
agora tem pontos de prata no céu grafite sólido
ah meu coração
estremeceu, parou
doeu,
ardeu e despregou
e aquela
fita durex não funciona mais
então vou
usar super-cola
aqui nesse peito quebrado
e depois
vc assopra
que por alguns
instantes ele cola
mas não encosta
senão
ainda gruda o seu aqui no meu
e depois
já viu a confusão que é pra desapregá
