quarta-feira, 22 de setembro de 2010

tô fora


queria eu dizer tudo que me vem à língua, o que me atiça os instintos libertinos e faz esmorecer até os que se dizem trash, punks, anarquistas. queria eu explanar sobre as vicissitudes da vida, os mistérios do amor, as paixões fast food, o dilema dos bons, a bondade dos maus, a virtude dos aceitos e politicamente corretos, mas não posso, não me vem, não sou nada, incapaz de tornar inteligível qualquer coisa que faça referência a emoção, sentimento e desejo de alguém, eu não sei porra nenhuma dessa vida, só sei do que não gosto, nem do que gosto eu sei de verdade, a vida nos trai toda hora, e nos faz percorrer por trilhos estrategicamente dispostos, que vão nos levar a um caminho previsível, óbvio, e muitas vezes sem volta. penso em gentes felizes com suas famílias felizes e cristãs, bem estruturadas, numa casa projetada, sorrisos colgate nas suas bocas com dentes perfeitos e brancos. penso em mulheres elegantes, bem sucedidas em seus ricos empregos com seus vestidos sexy e tailleurs impecáveis, sapatos lolla, cremes mary kay, personal no fim do dia e uma serviçal que lhe trata como filha. penso nas crianças cor de romã e seus brinquedos modernos, tomando sol com suas babás de vestes brancas, a esperar mamãe e papai. penso nos jovens adolescentes, aprendizes de uma vida tranquila e já traçada desde que nasceram, aulas de inglês, espanhol, mandarin, ballet e karatê, com suas mochilas high tech, seus tênis style, ipad, e internet banda larga. penso nos homens, pais e amantes perfeitos, workaholics, caçando o dia inteiro pra oferecer o melhor das abundâncias para a prole, e assim, serem eleitos pela família, amigos e vizinhos, o melhor provedor-comandante.
esse quadro não me enquadra. eu não caibo nessa tela. eu, ser anormal? qual seu foco-objetivo de vida, filha? tudo parece tão perfeito, limpo e rico! invadem-me os paradoxos! se isso for o melhor dos futuros a ser conquistado, para a acomodação derradeira da nação patriarcal instituída, deixarei a desejar. não cumprirei o desafio. essa tinta ainda não me retrata. não me apetece. a vida é breve, penso eu, e não há que ser levada tão a sério. afinal, dessa aventura alucinante ninguém sairá vivo. penso em me arriscar. arriscar a vida em ser livre. nos meus planos não habita esse comercial de margarina. nem ficar preso a ele até o dia do meu juízo,(a)final, eu escolhi ser livre.
tô fora. vou me jogar na vida. e seja o que der, doer e vier.
bye!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

I have a dream



Já ouviu falar daquele louco que acendeu uma lanterna numa clara manhã, correu para a praça do mercado e pôs-se a gritar incessantemente: "Eu procuro Deus! Eu Procuro Deus!" Como muitos dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muitas risadas... "Onde está Deus", ele gritava.
"Eu devo dizer-lhe. Nós o matamos - vocês e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos..."
Friedrich Nietzche, Gaia Ciência (1882).

Eu não sei ainda o porquê, mas meu híbrido ser insiste em ficar mascando pensamentos paradoxais, e mais uma vez, sempre vem à tona o que todos adoram proclamar, a esperança. Esperança, que trago com carinho no meu velho baú de quimeras e inspirações perdidas.
Há alguns itens na essência humana que fazem o mundo pior. No meu míope ponto de vista, me parecem mais reles produtos, ou talvez, sequelas da inteligência meia-boca e nada afrodisíaca dos nobres humanos.
Ilusão, somada à esperança, é nitroglicerina pura.
Nós, frágeis seres carentes, necessitamos mesmo dela?!
Humanos dopados e viciados em ilusão até às tampas. Dá pra perdoar?! E quem suporta tanta realidade!?
Ilusão - da vida pós-morte e um paraíso a te esperar todo arrumadinho e administrado por deus; de que quando vestir o paletó de madeira será perdoado pelos seus erros e maldades cometidos (essa é a melhor); de que um dia a mega-sena sorteará a sua combinação de números; a de que aquele ignóbil amor vingará; que seu carro 1.0 alcança o jaguar; que a gostosa do lado vai te dar mole e algo mais, em troca de nada; que seu patrão reconhecerá seu grande valor; que suas idéias renderão milhões; que mansões se erguerão à sua volta e helicópteros te levarão até Maresias; ilusão de que um dia ficará imerso no ócio profundo e nada te faltará (essa eu tenho).
Bom, diversas idéias e pensamentos em vão, que já renderam inúmeras epopéias homéricas, e outras vagabundas - como esta que você agora perde seu tempo lendo.
Até consigo engolir a esperança, a seco, sozinha, 'no the rock', livre da ilusão.
Muitos acreditaram(?) que o Partido dos Trabalhadores teria como principal objetivo resgatar a ética e a moralidade "como nunca antes na história desse país". E me diz ae, o que você viu? Um monte de putozinhos praticando atos absurdos, fantásticos, com uma promiscuidade nojenta e autofágica entre os três poderes da nobre república das bananas. Escárnio impudente, público e notório, cuspido e escarrado na sua carinha de bom cidadão iludido, como nunca antes na história deste país. Hoje meu partido é um coração partido.
Os donos do mundo, e o resto, tinham a esperança – “I have a dream” - M.L.King, de ver um negro na Casa Branca. Ele chegou lá! Taí: esperança + ilusão!
Quer tomar outra dose de esperança imbuída de ilusão? Haverá paz no Oriente Médio. Quem quiser acreditar em balelas remotíssimas ou em utopia das grandes, fique à vontade! Primeiro passo, reparar o mapa do Oriente Médio e todas as fronteiras anteriores ao domínio franco-britânico, ou seja, o mapa do Império Otomano. Depois sim, fazer com que judeus e palestinos esqueçam de uma vez essa asneira de cada um ter um país próprio, e enfim comemorem o final feliz jogando uma partida de futebol na próxima Copa, com os patriotas no estádio pagando boquete na vuvuzela. Tão fácil como os sulistas esqueceram (?) o sonho da República dos Pampas.
Se a próxima ilusão for a realização do Anarquismo Histórico e Romântico, só posso dizer que é tudo o que euzinha também tenho como esperança, mesmo que não seja pra mim, mas pelo menos para meus tatatatatataranetos (se é que a grande bola azul persistirá até lá). Eu tenho dúvidas, mas, se houverem amanhãs, existe uma possibilidade. E eu estarei lá, como dizia Raul (o último Anarquista): “porque eu continuarei neste homem, nos meus filhos…”
Porém, contudo, para que tal ocorra, precisaremos “enforcar o último governante nas tripas do último bispo”.
Posso listar alguns empecilhos que esbarram na esperança. Produção de armas. De drogas. Paraísos fiscais. Paraísos artificiais. Nacionalismos exacerbados. Tráfico de crianças. Abuso de crianças. Tráfico ilegal de órgãos. Tráfico de influências. Cobiças. Invejas. Documentos confidenciais. Educação no laica. Espionagem. Compra de votos. Ciúmes. Despeitos. Vaidades. Raças. Etnias. Preconceitos. Tradicionalismos doentios. Clonagem. Proibição do uso da camisinha. Curas. Laboratórios. Protecionismos. Copa do Mundo. Olimpíadas. Fashionweek. Nepotismos. Tráfico de mulheres. Exploração de mulheres. Trabalho escravo. Escravidão. Favelas. Excisão do clitóris. Coisas do passado que foram esquecidas. Coisas que nunca esqueceremos. A Velha Europa. As Américas. Astecas. Incas. Maias. Assurinis. Tapirajés. Kaiapós. Bororós. Guaranis. Xingu. Amazônia. Petróleo sobre as águas. Guerras civis. Guerras frias. Guerras religiosas. Guerras por petróleo. As guerras por tudo e por nada. Traições. Enganos. Explorações. Ofensas de bradar aos céus. Fomes disto e daquilo. Miséria. Carências de coisas fundamentais. Consumismo desenfreado. Crianças que querem demais. Crianças que não têm nada. Modas soberanas. Intolerâncias. Absolutismos. Nazismo. Judeus. Judiados. Medos. Ameaças. Chantagens. Faz de conta. Fronteiras. Mentiras descaradas. Hipocrisia. Descrença. Gente que perdeu a vergonha. Invasões. MST. Partidos partidos. De quem são os genes que moram em mim. E deus que não resolve aparecer, ou então enviar o filho ou o gerente. E o que isso importa, não é mesmo?
Será que alguém, dotado de alguma sapiência, racionalidade e lucidez, consegue armazenar ilusões de que o mundo seria, ou será, maravilhoso depois da queda do muro, da paz no Oriente, do negro, do analfabeto e sua sucessora - mulher no poder?
Em um tempo não tão remoto acreditava-se que o Comunismo deixaria o mundo mais justo e igualitário. Enfim! Na seqüência surgiram ditadores comunistas iguais ou muito piores do que os outros.
Lenon, Luther King, sinto informar, mas, o sonho acabou! Só ficaram as rosquinhas de cocô!
“Nossa! Que horror! Você é antipática e nada otimista!”
Ah, por favor, pense, se puder! Você está na vida, mas não está preparado pra ela.
Tente ver pelo lado positivo. A esperança quando acaba é com mansidão, suavidade, nostalgia. Ilusão não, quando acaba provoca trauma na carne sensível. Mas não precisa arrancar os cabelos ou pular no Berabinha. Separe osso de caroço, liberte-se, deixe de vez de ser refém de suas ilusões e crenças bestiais. Esperança pode e deve ser praticada sozinha, sem ser suplantada pela ilusão. Porque essa é definitiva, e tem efeito psicotrópico.
Se os boçais viventes no planeta plástico pudessem dar alguma relevância à lucidez, clareza, perspicácia e racionalidade, poderiam sair da Caverna de Platão. Poderiam! Mas não podem! E sabe por quê? Porque a ilusão não deixa!