Não sei porque e como acontece, mas, do nada, sem previsão divina, da mãe Dinah, dos babalorixás, ou mesmo qualquer intuição ou expectativa humana, o caminho por onde andas some, o imprevisto invade a cena, o mato toma conta da trilha, não há rumo, não há leme, não há luz de fundo, sequer túnel, não há sonho, e nem mesmo qualquer droguinha suficientemente boa e capaz de te colocar em outra viagem.
Sei que um triste dia você abre seus lindos olhos e se vê ali deitado, sem motivo pra levantar o corpo e tomar a posição vertical. Sem rédeas pra domar, facas pra brigar, um corpo pra amar, nem metro e meio pra ocupar.
Você – lotado de certezas fatalísticas na cabeça - pensa de cara que o mundo conspira contra você, que o vento só lhe traz poeira e besouros, e a água que bebe nunca é insípida e inodora. Passa a imaginar todos os seus nobres irmãos despertando às 7 badaladas e oito sonecas depois, indo para os seus dignos trabalhos, dirigindo suas cadeiras de rodas 1.0, 1.4, 1.6, 2.0 (boa, Nagoa), instalados nas suas prisões refrigeradas de cores neutras, ganhando seus míseros trocados, ou absurdas somas, construindo e incrementando seus lifestyles de novela, porfiando romances "ideais" e - ou "rodriguianos", e você ali, inerte, o protótipo de uma ameba, sem previsões ou provisões.
E logo você, um ateu convicto, acaba pensando Nele: “Ai god, se você existe mesmo, por que esqueceu desse seu súdito filho, ser desgraçado, degradado, desgarrado, e que ainda insiste em ser bem feitor.”
Euzinha nessa circunstância - que belo dia de mais um dia de férias espontâneas e ócio abençoado, mochila leve, nenhum cartão pra bater, ninguém pra fazer sala. Aproveito o sol. Queimar a pele do meu torneado corpinho, e já que aqui não há mar (eu prefiro o sal), me banhar em alguma cachoeira próxima. Eu sei, minha alta auto estima é quase única e sempre me levou a ter a certeza que amanhã nada me faltará. O hoje me basta, e hoje eu to abastada (graças a eu mesma).
Bom, e o barquinho ta lá, lindo e faceiro, meigo, humilde e modesto na sua insignificância frente a imensidão das águas.
E você!? Você tá fora honey! Sua canoa furou, os lemes afundaram e você, na sua estupidez galopante, continua remando contra a maré e engolindo água salobra.
Não adianta chorar ou blasfemar. Você nesse barco vai afundar. E pior, te falta visão suficiente pra sacar que ta na hora de nadar.
Se o que corre nessas veias é sangue, e não água com açúcar, e mesmo não sendo um puro sangue - se ele ainda é quente, o pulso ainda pulsa, e se esses olhos conseguem ver algo além desse nariz empinado, esse umbigo mal curado e essa cara de quem goza mal pra caralho...fecha logo essa boca maldita e pára de se alimentar de moscas, cessa as reclamações e as mentiras inventadas que não sabe sustentar, abandona de vez as desculpas inconsumíveis, e não peça piedade a quem você nem acredita existir.
Tá sem rumo, sem destino, sem motivo, sem cor, sem tom, sem tesão, sem tostão, seu paladar já não tem função, e não consegue sentir nada a não ser o gosto azedo dessa sua amargura intrínseca:
“Continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar...”.
Ah! Nada melhor que as mensagens subliminares das películas infantis pra animar.
Melhor que qualquer livrim fastidioso chopriano, oshiano, coelhano, e doutros bilongos da estirpe dos xatólogos.
E a você Loro, obrigada pelas setenta vezes que compartilhou comigo sua doce e vibrante companhia, no afã de me apresentar e ficarmos a admirar a Dory.
Ai loviu pra xuxu!