quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Dory


Não sei porque e como acontece, mas, do nada, sem previsão divina, da mãe Dinah, dos babalorixás, ou mesmo qualquer intuição ou expectativa humana, o caminho por onde andas some, o imprevisto invade a cena, o mato toma conta da trilha, não há rumo, não há leme, não há luz de fundo, sequer túnel, não há sonho, e nem mesmo qualquer droguinha suficientemente boa e capaz de te colocar em outra viagem.
Sei que um triste dia você abre seus lindos olhos e se vê ali deitado, sem motivo pra levantar o corpo e tomar a posição vertical. Sem rédeas pra domar, facas pra brigar, um corpo pra amar, nem metro e meio pra ocupar.
Você – lotado de certezas fatalísticas na cabeça - pensa de cara que o mundo conspira contra você, que o vento só lhe traz poeira e besouros, e a água que bebe nunca é insípida e inodora. Passa a imaginar todos os seus nobres irmãos despertando às 7 badaladas e oito sonecas depois, indo para os seus dignos trabalhos, dirigindo suas cadeiras de rodas 1.0, 1.4, 1.6, 2.0 (boa, Nagoa), instalados nas suas prisões refrigeradas de cores neutras, ganhando seus míseros trocados, ou absurdas somas, construindo e incrementando seus lifestyles de novela, porfiando romances "ideais" e - ou "rodriguianos", e você ali, inerte, o protótipo de uma ameba, sem previsões ou provisões.
E logo você, um ateu convicto, acaba pensando Nele: “Ai god, se você existe mesmo, por que esqueceu desse seu súdito filho, ser desgraçado, degradado, desgarrado, e que ainda insiste em ser bem feitor.”
Euzinha nessa circunstância - que belo dia de mais um dia de férias espontâneas e ócio abençoado, mochila leve, nenhum cartão pra bater, ninguém pra fazer sala. Aproveito o sol. Queimar a pele do meu torneado corpinho, e já que aqui não há mar (eu prefiro o sal), me banhar em alguma cachoeira próxima. Eu sei, minha alta auto estima é quase única e sempre me levou a ter a certeza que amanhã nada me faltará. O hoje me basta, e hoje eu to abastada (graças a eu mesma).
Bom, e o barquinho ta lá, lindo e faceiro, meigo, humilde e modesto na sua insignificância frente a imensidão das águas.
E você!? Você tá fora honey! Sua canoa furou, os lemes afundaram e você, na sua estupidez galopante, continua remando contra a maré e engolindo água salobra.
Não adianta chorar ou blasfemar. Você nesse barco vai afundar. E pior, te falta visão suficiente pra sacar que ta na hora de nadar.
Se o que corre nessas veias é sangue, e não água com açúcar, e mesmo não sendo um puro sangue - se ele ainda é quente, o pulso ainda pulsa, e se esses olhos conseguem ver algo além desse nariz empinado, esse umbigo mal curado e essa cara de quem goza mal pra caralho...fecha logo essa boca maldita e pára de se alimentar de moscas, cessa as reclamações e as mentiras inventadas que não sabe sustentar, abandona de vez as desculpas inconsumíveis, e não peça piedade a quem você nem acredita existir.
Tá sem rumo, sem destino, sem motivo, sem cor, sem tom, sem tesão, sem tostão, seu paladar já não tem função, e não consegue sentir nada a não ser o gosto azedo dessa sua amargura intrínseca:

“Continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar...”.

Ah! Nada melhor que as mensagens subliminares das películas infantis pra animar.
Melhor que qualquer livrim fastidioso chopriano, oshiano, coelhano, e doutros bilongos da estirpe dos xatólogos.

E a você Loro, obrigada pelas setenta vezes que compartilhou comigo sua doce e vibrante companhia, no afã de me apresentar e ficarmos a admirar a Dory.
Ai loviu pra xuxu!

domingo, 14 de novembro de 2010

Bom dia resignados!

Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente
Seu filho sem escola, seu velho tá sem dente
Você tenta ser contente, não vê que é revoltante
Você tá sem emprego e sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo
Você que é inocente foi preso em flagrante
É tudo flagrante.
...

Escola, esmola, favela, cadeia, sem terra, enterra, sem renda, se renda.
Não, não.
...

Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente.
Até quando você vai levar porrada?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

tô fora


queria eu dizer tudo que me vem à língua, o que me atiça os instintos libertinos e faz esmorecer até os que se dizem trash, punks, anarquistas. queria eu explanar sobre as vicissitudes da vida, os mistérios do amor, as paixões fast food, o dilema dos bons, a bondade dos maus, a virtude dos aceitos e politicamente corretos, mas não posso, não me vem, não sou nada, incapaz de tornar inteligível qualquer coisa que faça referência a emoção, sentimento e desejo de alguém, eu não sei porra nenhuma dessa vida, só sei do que não gosto, nem do que gosto eu sei de verdade, a vida nos trai toda hora, e nos faz percorrer por trilhos estrategicamente dispostos, que vão nos levar a um caminho previsível, óbvio, e muitas vezes sem volta. penso em gentes felizes com suas famílias felizes e cristãs, bem estruturadas, numa casa projetada, sorrisos colgate nas suas bocas com dentes perfeitos e brancos. penso em mulheres elegantes, bem sucedidas em seus ricos empregos com seus vestidos sexy e tailleurs impecáveis, sapatos lolla, cremes mary kay, personal no fim do dia e uma serviçal que lhe trata como filha. penso nas crianças cor de romã e seus brinquedos modernos, tomando sol com suas babás de vestes brancas, a esperar mamãe e papai. penso nos jovens adolescentes, aprendizes de uma vida tranquila e já traçada desde que nasceram, aulas de inglês, espanhol, mandarin, ballet e karatê, com suas mochilas high tech, seus tênis style, ipad, e internet banda larga. penso nos homens, pais e amantes perfeitos, workaholics, caçando o dia inteiro pra oferecer o melhor das abundâncias para a prole, e assim, serem eleitos pela família, amigos e vizinhos, o melhor provedor-comandante.
esse quadro não me enquadra. eu não caibo nessa tela. eu, ser anormal? qual seu foco-objetivo de vida, filha? tudo parece tão perfeito, limpo e rico! invadem-me os paradoxos! se isso for o melhor dos futuros a ser conquistado, para a acomodação derradeira da nação patriarcal instituída, deixarei a desejar. não cumprirei o desafio. essa tinta ainda não me retrata. não me apetece. a vida é breve, penso eu, e não há que ser levada tão a sério. afinal, dessa aventura alucinante ninguém sairá vivo. penso em me arriscar. arriscar a vida em ser livre. nos meus planos não habita esse comercial de margarina. nem ficar preso a ele até o dia do meu juízo,(a)final, eu escolhi ser livre.
tô fora. vou me jogar na vida. e seja o que der, doer e vier.
bye!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

I have a dream



Já ouviu falar daquele louco que acendeu uma lanterna numa clara manhã, correu para a praça do mercado e pôs-se a gritar incessantemente: "Eu procuro Deus! Eu Procuro Deus!" Como muitos dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muitas risadas... "Onde está Deus", ele gritava.
"Eu devo dizer-lhe. Nós o matamos - vocês e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos..."
Friedrich Nietzche, Gaia Ciência (1882).

Eu não sei ainda o porquê, mas meu híbrido ser insiste em ficar mascando pensamentos paradoxais, e mais uma vez, sempre vem à tona o que todos adoram proclamar, a esperança. Esperança, que trago com carinho no meu velho baú de quimeras e inspirações perdidas.
Há alguns itens na essência humana que fazem o mundo pior. No meu míope ponto de vista, me parecem mais reles produtos, ou talvez, sequelas da inteligência meia-boca e nada afrodisíaca dos nobres humanos.
Ilusão, somada à esperança, é nitroglicerina pura.
Nós, frágeis seres carentes, necessitamos mesmo dela?!
Humanos dopados e viciados em ilusão até às tampas. Dá pra perdoar?! E quem suporta tanta realidade!?
Ilusão - da vida pós-morte e um paraíso a te esperar todo arrumadinho e administrado por deus; de que quando vestir o paletó de madeira será perdoado pelos seus erros e maldades cometidos (essa é a melhor); de que um dia a mega-sena sorteará a sua combinação de números; a de que aquele ignóbil amor vingará; que seu carro 1.0 alcança o jaguar; que a gostosa do lado vai te dar mole e algo mais, em troca de nada; que seu patrão reconhecerá seu grande valor; que suas idéias renderão milhões; que mansões se erguerão à sua volta e helicópteros te levarão até Maresias; ilusão de que um dia ficará imerso no ócio profundo e nada te faltará (essa eu tenho).
Bom, diversas idéias e pensamentos em vão, que já renderam inúmeras epopéias homéricas, e outras vagabundas - como esta que você agora perde seu tempo lendo.
Até consigo engolir a esperança, a seco, sozinha, 'no the rock', livre da ilusão.
Muitos acreditaram(?) que o Partido dos Trabalhadores teria como principal objetivo resgatar a ética e a moralidade "como nunca antes na história desse país". E me diz ae, o que você viu? Um monte de putozinhos praticando atos absurdos, fantásticos, com uma promiscuidade nojenta e autofágica entre os três poderes da nobre república das bananas. Escárnio impudente, público e notório, cuspido e escarrado na sua carinha de bom cidadão iludido, como nunca antes na história deste país. Hoje meu partido é um coração partido.
Os donos do mundo, e o resto, tinham a esperança – “I have a dream” - M.L.King, de ver um negro na Casa Branca. Ele chegou lá! Taí: esperança + ilusão!
Quer tomar outra dose de esperança imbuída de ilusão? Haverá paz no Oriente Médio. Quem quiser acreditar em balelas remotíssimas ou em utopia das grandes, fique à vontade! Primeiro passo, reparar o mapa do Oriente Médio e todas as fronteiras anteriores ao domínio franco-britânico, ou seja, o mapa do Império Otomano. Depois sim, fazer com que judeus e palestinos esqueçam de uma vez essa asneira de cada um ter um país próprio, e enfim comemorem o final feliz jogando uma partida de futebol na próxima Copa, com os patriotas no estádio pagando boquete na vuvuzela. Tão fácil como os sulistas esqueceram (?) o sonho da República dos Pampas.
Se a próxima ilusão for a realização do Anarquismo Histórico e Romântico, só posso dizer que é tudo o que euzinha também tenho como esperança, mesmo que não seja pra mim, mas pelo menos para meus tatatatatataranetos (se é que a grande bola azul persistirá até lá). Eu tenho dúvidas, mas, se houverem amanhãs, existe uma possibilidade. E eu estarei lá, como dizia Raul (o último Anarquista): “porque eu continuarei neste homem, nos meus filhos…”
Porém, contudo, para que tal ocorra, precisaremos “enforcar o último governante nas tripas do último bispo”.
Posso listar alguns empecilhos que esbarram na esperança. Produção de armas. De drogas. Paraísos fiscais. Paraísos artificiais. Nacionalismos exacerbados. Tráfico de crianças. Abuso de crianças. Tráfico ilegal de órgãos. Tráfico de influências. Cobiças. Invejas. Documentos confidenciais. Educação no laica. Espionagem. Compra de votos. Ciúmes. Despeitos. Vaidades. Raças. Etnias. Preconceitos. Tradicionalismos doentios. Clonagem. Proibição do uso da camisinha. Curas. Laboratórios. Protecionismos. Copa do Mundo. Olimpíadas. Fashionweek. Nepotismos. Tráfico de mulheres. Exploração de mulheres. Trabalho escravo. Escravidão. Favelas. Excisão do clitóris. Coisas do passado que foram esquecidas. Coisas que nunca esqueceremos. A Velha Europa. As Américas. Astecas. Incas. Maias. Assurinis. Tapirajés. Kaiapós. Bororós. Guaranis. Xingu. Amazônia. Petróleo sobre as águas. Guerras civis. Guerras frias. Guerras religiosas. Guerras por petróleo. As guerras por tudo e por nada. Traições. Enganos. Explorações. Ofensas de bradar aos céus. Fomes disto e daquilo. Miséria. Carências de coisas fundamentais. Consumismo desenfreado. Crianças que querem demais. Crianças que não têm nada. Modas soberanas. Intolerâncias. Absolutismos. Nazismo. Judeus. Judiados. Medos. Ameaças. Chantagens. Faz de conta. Fronteiras. Mentiras descaradas. Hipocrisia. Descrença. Gente que perdeu a vergonha. Invasões. MST. Partidos partidos. De quem são os genes que moram em mim. E deus que não resolve aparecer, ou então enviar o filho ou o gerente. E o que isso importa, não é mesmo?
Será que alguém, dotado de alguma sapiência, racionalidade e lucidez, consegue armazenar ilusões de que o mundo seria, ou será, maravilhoso depois da queda do muro, da paz no Oriente, do negro, do analfabeto e sua sucessora - mulher no poder?
Em um tempo não tão remoto acreditava-se que o Comunismo deixaria o mundo mais justo e igualitário. Enfim! Na seqüência surgiram ditadores comunistas iguais ou muito piores do que os outros.
Lenon, Luther King, sinto informar, mas, o sonho acabou! Só ficaram as rosquinhas de cocô!
“Nossa! Que horror! Você é antipática e nada otimista!”
Ah, por favor, pense, se puder! Você está na vida, mas não está preparado pra ela.
Tente ver pelo lado positivo. A esperança quando acaba é com mansidão, suavidade, nostalgia. Ilusão não, quando acaba provoca trauma na carne sensível. Mas não precisa arrancar os cabelos ou pular no Berabinha. Separe osso de caroço, liberte-se, deixe de vez de ser refém de suas ilusões e crenças bestiais. Esperança pode e deve ser praticada sozinha, sem ser suplantada pela ilusão. Porque essa é definitiva, e tem efeito psicotrópico.
Se os boçais viventes no planeta plástico pudessem dar alguma relevância à lucidez, clareza, perspicácia e racionalidade, poderiam sair da Caverna de Platão. Poderiam! Mas não podem! E sabe por quê? Porque a ilusão não deixa!

domingo, 29 de agosto de 2010

Não foram minhas as suas culpas.




Sei, sei, sei. Não era pra ser assim, baby, mas já foi. Fazer o quê, né? Palavra dita e ato consumado, não tem círculo que consiga fazer a volta pra fazer ser diferente. É como cinzas jogadas ao vento - impossível recolhe-lás. Ahhh...não vá chorar! Quando tudo acabar, estaremos bem, exalando nosso odor despudorado e livre por ae, escancarando os dentes num sorriso sincero, encantando e seduzindo até objetos inanimados. Não peça desculpas. Não cultue remorsos. Não se arrependa. Tem gente que diz que pra tudo - um fim - um destino - um novo começo. Mesmo não sendo adepta destas teorias bestiais paternalistas (Osho e todo seu rebanho), posso tentar engolir essa merda altruísta dos que acham que promovem auto-ajuda.
Infelizes! Não foram minhas as suas culpas! Se esbarraram sem querer querendo, e conversaram horas pra tentar desentender. Cada qual encenou seu papel preferido. A dama gentil e delicada, com suas vestes de pudica pueril na primavera, prolatou palavrinhas quase bem escolhidas para explicar o quanto ela é inocente e solitária, e como acabou caindo ali de para quedas, o qual, não abriu, e ela acabou espatifando suas carnes asseadas no chão eivado de mijo e cerveja (será que quando tira a roupa, deixa a personagem e vira atriz?). Tentativa torpe de convencer a interlocutora (ela não sabia com quem estava falando - não tinha a menor condição de visualizar a dimensão de quem era), de uma tolice tão crassa que a fez querer vomitar no seu sapatinho de cristal. E ele, o macho viril, pragmático, diplomata, pronto a determinar as diretrizes da sua nova rota emocional, afinal, sua teoria de cabeceira é: - Não tá feliz, não tá sorrindo, troca - pega a próxima que está na fila e põe no lugar.
Furacões já arrebataram meu alter ego, fui objeto de estripulia da vaidade alheia, já levei porrada, facada, apanhei na cara, e até conseguiram me derrubar com voadora. Não morri. Não fiquei paraplégica. Quase manquei. Mas minha verve vai além. Sou uma puta de uma egoísta saída de um bordel gótico onde as verdades são ditas por inteiro - questão de sobrevivência, onde um jab de realidade acerta seu narizinho de princesinha direitinha e limpinha, e te derruba da torre do castelo trazendo-a à tona ao mundo que é tocável. Aqui não existe tempo pra papinhos, aventurazinhas e assédios virtuais. Aqui no meu mundo, minha filha, o real suplanta o lúdico, senão você padece degustando nuvens e vendo a banda de punks nus passar e cuspir na sua cara. Aqui os sentimentos são vividos e colocados na atmosfesra, não há lugarzinho quente com cheiro adocicado pra você lamentar rejeições e amores que não sabe viver, isso é pura incompetência, te faz falir. Aqui, chérrie, as oportunidades são disputadas a tapa, e, se você não aproveita, vai ter que vender a janta pra ir ao baile. Sou uma vadia destemida, exagerada e verdadeira, gloriosa por carregar na bagagem um histórico de mulher muito bem amada, idolatrada, salve, salve! O papel de coitadinha amargurada não é pra mim, não sou chegada a colo, nem mágoas. Me viro bem com o que tenho, e minha mala tá carregada de sábias (nem sempre) decisões e opiniões formadas sobre (quase) tudo.
Jurumelas de antanhos. Porcos vis com espinhos tortos. Maledicentes que não sabem amar. Podres imbecis ostentando vida digna em seus dialogozinhos regados à teoria-terapia de quem pensa saber relatar sentimentos que não sabe executar. Carrego enorme pena de gente que veio ao mundo e perdeu a viagem (o Cazuza também). Ignóbeis seres lúdicos, serão sempre escravos de seus sonhos de perfeição, ignorâncias diplomadas e orgulhinhos infantis. Deixo minhas condolências, gente careta e covarde. Talvez, quem sabe, um dia, aprenda, na porrada ou na peixeira, algo que lhe ajude a viver e ver o que é vida de verdade.
Beijo. Desliga.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

vice versa

às vezes me parece que...às vezes tudo desaparece, um dia eu estou, outro não sou, quando me vê se confunde, talvez não seja-me, ou disfarce-me ficou, eu busco não sei o quê, mas quero assim mesmo sem sabê-lo o quê, tudo me interessa e de tudo quero saber, não, conhecer só basta, sem profundidade, intensidade ou penetração, quem disse que a superfìcie não atrai(?)...te faz ficar e até sentir... ninguém quer sentir muito, muito menos saber demais, satisfação é básico momentâneo, importe-se com você mais, deixe os outros para quando eles te precisarem, mania de querer achar o que acha que o outro é, ou o que acha que o outro sente, você se acha (graça), cale-se e meta-se com você, ache-se se puder, e pense menos pra pode sentir um pouco mais, ou vice-versa...não faça as malas antes do adeus, não escove os dentes antes da refeição, não tome água depois do café, não gaste o que não tem, não coma o que não precisa, nunca aprende, sempre se arrepende, rugas aparecem, tolerância enrijece e as carnes amolecem, o pudor se esvaece, a verdade lhe apetece e o humor padece, não pense em final feliz, nem num triste fim, tudo sempre continua, tudo sempre um processo, pra viver não precisa carregar arquivos, armazene as lembranças, as boas - nem sempre, as ruins também te perseguem e quem sabe enriquecem...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

causas perdidas


é preciso sobreviver à hora da verdade
um dia você se afoga no mar da ilusão
e o mar é maior - não cabe na imaginação
ninguém - nunca - vai abraçá-lo
só depois de esfregar os olhos
tudo fica claro - como areia em dia de sol
a luz te ofusca a princípio
depois enxerga - e usa - a chave da prisão
a brincadeira de ser sério acabou
é hora de brincar de ser livre - no xadrez
se pudesse prever que era inevitável, juro, teria me retirado antes
eu sei, extrapolei o horário, gastei todas as fichas - já vou tarde
se soubesse tudo antes, erraria de novo, de novo, igual
não quero o que nunca me pertenceu
eu desisto de quem desiste
deveria ser simples
ser simples às vezes é complicado
é preciso coragem pra errar - covardes acertam sempre
é preciso dignidade pra saber a hora certa de sair
prazer, meu nome é Cândida - amiga de Cândido - que é amigo de Voltaire
a puro sangue que sobrevive porque também vira latas
conhecida também por dedicar amor às causas perdidas
e pra quem tem coragem, ao seu dispor
pra brincar de ser feliz - enquanto ainda pode imaginar o mar