quarta-feira, 23 de agosto de 2017

linha de partida...


Parou. Chegou até aqui. 
Tudo que engoli sem digerir. 
Fechei meus olhos. Só vi o que quis.
Tapei meus ouvidos.
Calei minha língua. 
Entorpeci meus sentidos. 
Busquei distração. Disfarcei. Entretive.
Me 'achei', me presumi, me supus. 
Perseverei convicções, me confundi, me perdi. 
Me anulei, omiti a verdade de mim, me menti.
Ousei ir sem sair, falei sem concluir.
Soluços abafados com medo do fim. 
Não dá. Pardon. C'est finni.
Percorri a tropeços caminhos imaginários. 
Estradas acidentadas me deixaram estropiada. 
Caí. Morri. Quase não resisti. 
Mas restou vida em mim.
Esse ser me afoga e não me preenche. 
O espaço não me cabe nem combina com a minha verve. 
O som não me enxerga e me ensurdece. 
O horizonte não me ouve e essa luz ofusca minhas retinas. 
Cheguei enfim na linha de partida.
Agora me sento no alto da minha própria derrota,
e observo os estilhaços lá embaixo.
E mesmo que esse ser venha semi nu, 
eivado de súplicas e inebriantes anedotas,
mesmo que ofereça sua cabeça a prêmio,
seus dotes como oferenda,
mesmo que prometa o mar e o mundo aos meus pés,
mesmo que intencione deslizar sua língua entre as minhas pernas,
mesmo assim, hei de insistir, é tarde demais,
apresento-lhe o testamento de valores depreciados,
e arranco enfim a semente que havia brotado,
salvando minha fé dúbia no caráter humano.
Agora eu preciso partir, e ir... 
E vou, vou, vou...
Até onde não mais existir, onde nada é palpável ou comensurável.  
Preciso chegar onde só posso ser o que sinto, 
e ser enfim o que sou. 
Eu vou pra sempre, e pra nunca mais.
A verdade tem mão única e passagem só de ida.

2 comentários:

  1. Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
    Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
    quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
    eu sinto saudades...

    Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
    de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

    Sinto saudades da minha infância,
    do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
    do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

    Sinto saudades do presente,
    que não aproveitei de todo,
    lembrando do passado
    e apostando no futuro...

    Sinto saudades do futuro,
    que se idealizado,
    provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

    Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
    De quem disse que viria
    e nem apareceu;
    de quem apareceu correndo,
    sem me conhecer direito,
    de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

    Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

    Daqueles que não tiveram
    como me dizer adeus;
    de gente que passou na calçada contrária da minha vida
    e que só enxerguei de vislumbre!

    Sinto saudades de coisas que tive
    e de outras que não tive
    mas quis muito ter!

    Sinto saudades de coisas
    que nem sei se existiram.

    Sinto saudades de coisas sérias,
    de coisas hilariantes,
    de casos, de experiências...

    Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
    e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

    Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

    Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

    Sinto saudades das coisas que vivi
    e das que deixei passar,
    sem curtir na totalidade.

    Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
    não sei onde...
    para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

    Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
    Em japonês, em russo,
    em italiano, em inglês...
    mas que minha saudade,
    por eu ter nascido no Brasil,
    só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

    Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
    espontaneamente quando
    estamos desesperados...
    para contar dinheiro... fazer amor...
    declarar sentimentos fortes...
    seja lá em que lugar do mundo estejamos.

    Eu acredito que um simples
    "I miss you"
    ou seja lá
    como possamos traduzir saudade em outra língua,
    nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

    Talvez não exprima corretamente
    a imensa falta
    que sentimos de coisas
    ou pessoas queridas.

    E é por isso que eu tenho mais saudades...
    Porque encontrei uma palavra
    para usar todas as vezes
    em que sinto este aperto no peito,
    meio nostálgico, meio gostoso,
    mas que funciona melhor
    do que um sinal vital
    quando se quer falar de vida
    e de sentimentos.

    Ela é a prova inequívoca
    de que somos sensíveis!
    De que amamos muito
    o que tivemos
    e lamentamos as coisas boas
    que perdemos ao longo da nossa existência.


    ...


    Musamor






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